sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Todo e a Unidade: O Fio da Vida

Grande avó, figura ancestral, 
Que me ensina a fiar o meu destino! 
Ajuda-me a reconhecer 
O potencial que trago em mim, 
Capaz, de tecer um mundo de paz! 
Vem, Avó, comigo criar o sonho do mundo 
E desenhar, no fio da vida, 
O meu sonho pessoal! 
Avó Aranha, enxergo no seu bordado 
Os múltiplos padrões do destino de todos nós. 
Obrigada, Avó, porque na Dança da Vida 
Descobrimos que não estamos sós! 

Victória Gramacho


Avó Aranha 

    Na rede universal, todas as coisas estão inter-relacionadas. Cada coisa faz parte do Todo, e só podemos entender cada uma em si quando conseguimos compreender a forma como ela se conecta com as demais partes deste Uno. O arquétipo destes ensinamentos é a Avó Aranha. Observe: quando ela tece a sua teia nos lembra que o Universo é uma rede onde tudo está inter-relacionado. Na teia da Avó Aranha estão os ensinamentos sobre nosso passado, presente e futuro. Por meio de seus círculos, pontos e fios invisíveis aprendemos que as relações não clareadas devidamente no passado não conseguem fluir no presente e comprometem nosso crescimento visando o futuro.
    Ao tecer a sua teia, a Aranha nos alerta para o fato de que tudo passa — o futuro pode ser já. O presente daqui a pouco é passado. Ou seja, a Avó chama a atenção para se ver que a Criação vive o processo de uma constante mudança. Assim ocorre com os seres humanos que nascem, crescem, envelhecem e morrem, entrando para o mundo espiritual para novamente renascer na carne em ondas de energia... e morrer e nascer e mudar... e fluir... e se transmutar em vida-morte-vida...
    As mudanças não acontecem por acaso ou por acidentes. Elas ocorrem em ciclos e padrões. O que é importante é ter a consciência de que todo este processo está inter-relacionado. Cada mudança está conectada às outras coisas e cada processo faz parte de um todo que é Uno, indivisível.    
    Para nos permitirmos fluir é preciso buscar a clareza. Isso pode começar pelo entendimento de que assim como o mundo físico é real, o mundo espiritual também o é. E, embora haja leis distintas que governam cada um destes mundos, o desrespeito às leis de um destes pianos pode afetar o outro. Uma vida equilibrada, que nos permite viver sem estar preso nos nós da teia do nosso destino, é aquela que honra as leis de ambas as dimensões.
    A Medicina da Aranha ensina sobre as nossas infinitas possibilidades de (e como) construir os fios da teia da Vida, com bons frutos, para vivê-la tranquilamente ao longo do Tempo, observando-se os planos eternos e a necessidade de expansividade. Ela é considerada, ainda, a guardiã ancestral das linguagens e alfabetos primordiais que, revelam as tradições, eram formados por linhas geométricas e ângulos presentes nas suas teias. Assim é que esta Avó ensina aos humanos que eles sempre podem adquirir novos dons, desde que se empenhem e trabalhem para consegui-los. A primeira tarefa é ver em que ponto da teia estão os nossos medos para, apossando-se da coragem, atravessá-los com honestidade e integridade.

"A Aranha é a manifestação da energia feminina, da força criadora que tece os belos desenhos da vida, e sua teia possui centenas de intrincados padrões que capturam a luz do alvorecer." (Jamie Sams, in Cartas Xamânicas).

A Mulher Aranha (Tse Che Nako) 

    Os nativos norte-americanos, em particular os Cherokee, Hopi, Kiowa, honram a Mulher Aranha como a criadora e tecelã da Teia da Vida, a Mãe, mestra e protetora de todas as criaturas.
    Além de possuir a Sabedoria ilimitada, ela detém o conhecimento
profético do futuro e tanto pode se apresentar como uma jovem, uma anciã, quanto como uma Aranha que revela seu conhecimento sussurrando no ouvido daquele que sabe ouvi-la. A Mulher Aranha, na opinião dos nativos, é velha como o Tempo e jovem como a Eternidade.
    Conta a tradição que a Mulher Aranha — Tse Che Nako, na língua hopi — teceu dois fios prateados, um ligando o Leste ao Oeste, o outro unindo o Norte ao Sul, e desta forma criou a Estrada da Vida. Depois de tecer estes fios, a Mulher Aranha cantou uma canção criando, a partir do som, as suas filhas gêmeas Ut Set e Nau Ut, que trouxeram o Sol, a Lua, as Estrelas e o movimento da Terra.
    Ela criou toda a vegetação, os pássaros, os animais e modelou, no barro, as quatro raças dos homens (vermelhos, brancos, amarelos e negros). Depois ela teceu uma teia mágica de amor e sabedoria e amarrou os fios prateados nas cabeças dos homens, ensinando-os que esta seria a maneira de manterem a conexão com Ela para receberem sua sabedoria espiritual. Os hopi chamam este fio de kopavi (o chakra localizado no alto da cabeça, o coronário). O homem precisa manter este ponto sempre aberto para a Deusa para que possa obter espiritualidade, criação e força vital.
    Foi a Mulher Aranha, que é cultuada pelos hopi como uma Deusa suprema, pois vem do tempo em que só havia escuridão, quem ensinou às mulheres a tecer e fazer cerâmica e, aos homens, como plantar e cuidar da terra.

Retirado do livro "Magia Xamanica: Roda de Cura." de Derval Gramacho e Victória Gramacho. Editora Madras.